O dia 31 de março foi estabelecido como o Dia Nacional do Doente com Acidente Vascular Cerebral, por publicação no Diário da República II Série nº 23910/2003, com vista a chamar a atenção da população geral para a realidade do Acidente Vascular Cerebral (AVC) em Portugal e sensibilizar toda a Sociedade para as medidas que se podem e devem tomar para o evitar.
Mesmo antes de ser definido, pela World Stroke Organization (WSO), em 2006, um Dia Mundial dedicado a esta patologia (Dia Mundial do AVC, assinalado anualmente a 29 de outubro), o então Núcleo de Estudos das Doenças Vasculares Cerebrais da Sociedade Portuguesa de Neurologia, que viria a transformar-se posteriormente em Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral (SPAVC), já via como premente alertar a população para as possibilidades de prevenção e tratamento desta doença, incentivando melhores cuidados de saúde aos sobreviventes de AVC. Só em 2010, sete anos depois de implementado o Dia Nacional do Doente com AVC em Portugal, o AVC foi reconhecido internacionalmente como um problema de saúde pública major.
Mas porquê a existência de um Dia Nacional? Desde a década de 80 que é reconhecida, em Portugal, a elevada taxa de mortalidade associada ao AVC que, ao nível europeu, e mesmo comparativamente a outros países da Europa Ocidental, se destacava pela negativa. A partir da década de 90, fruto de campanhas de sensibilização da população no âmbito desta efeméride, de uma melhor organização dos cuidados de saúde no que respeita ao tratamento dos doentes com AVC e também devido à evolução dos próprios tratamentos utilizados nas primeiras horas após o aparecimento dos primeiros sintomas, tem-se verificado uma redução da incidência do AVC. Entre os anos de 1990 e 2000, a incidência de AVC era de 2,8 por 1000 habitantes ao ano. Entre 2000 e 2010, verificou-se uma redução para 2,0/1000/ano, ou seja, por ano, em cada 1000 habitantes, cada 2 sofrem um AVC.
Apesar da redução da incidência, verificou-se um aumento da prevalência de doentes que sofreram um AVC, uma vez que a taxa de sobreviventes aumentou substancialmente ao longo da última década. O AVC continua, pois, a ser a principal causa de morte e incapacidade permanente no nosso país. Por hora, três portugueses são vítimas de um AVC. Destes, um deles não sobreviverá e pelo menos metade ficará com sequelas incapacitantes.
Mantendo a posição tomada a propósito de um dia Mundial, Internacional ou Nacional dedicado a uma determinada doença, a SPAVC dedica esta data à população geral através de ações de esclarecimento, sensibilização e informação que terão lugar de norte a sul do país. Atividades desportivas, sessões de informação, rastreios a fatores de risco e distribuição de folhetos são algumas das ações que serão promovidas em Lisboa, Évora, Faro, Figueira da Foz, Loures, Macedo de Cavaleiros, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo, Vila Franca de Xira, Ponte de Lima, entre outros locais ainda por confirmar. Os locais e respetivas atividades poderão ser consultados no website da SPAVC (www.spavc.ogr) ou através da página do evento criada no Facebook da SPAVC (www.facebook.com/soc.por.avc), onde as ações serão divulgadas em primeira mão.
Consciente do impacto da linguagem visual na assimilação dos conhecimentos e da consolidação da aprendizagem, este ano a SPAVC irá também lançar um vídeo didático em escolas e através de algumas instituições de saúde, que será potenciado através do website e redes sociais. Este formato multimédia tem como objetivo transmitir, de forma apelativa e ilustrada, os sinais de AVC (os chamados três F’s – falta de Força num braço, desvio da Face, dificuldade na Fala) e respetivos procedimentos no caso de aparecimento de um destes sinais.
Pretende-se, com as ações do dia 31 de março, que a população fique mais informada sobre a primeira causa de morte e de incapacidade em Portugal, e assim se torne mais exigente consigo própria e com quem tem obrigação de lhe proporcionar os meios de prevenção e de tratamento, sendo certo que os primeiros são preferíveis aos segundos.
A uma semana desta tão importante efeméride, apelo a que se tornem pró-ativos e apareçam nos locais assinalados e publicitados à escala nacional e local. Esta participação é essencial para vencermos o combate em que estamos empenhados desde a fundação da SPAVC. Compareçam, informem-se e utilizem os conhecimentos adquiridos para poder atingir uma velhice saudável.
Não nos esqueçamos que estamos perante uma doença gravíssima, mas que se pode prevenir e tratar. E a quem pertence a prevenção? Aos leitores desta mensagem: a população. Diariamente e durante todo o ano, devem ser postas em prática as medidas de prevenção amplamente divulgadas pela SPAVC através das mais variadas ações. Estas medidas dizem respeito ao combate aos fatores de risco de AVC, cujos mais importantes são a hipertensão arterial, o tabagismo, a diabetes, o sedentarismo, e a fibrilhação auricular (arritmia cardíaca). Vigiar os valores da tensão arterial e do ritmo cardíaco, não fumar, adotar uma alimentação saudável e praticar exercício físico regular são algumas medidas que nos devem acompanhar toda a vida. Vamos modificar o panorama do AVC no nosso país! A prevenção está nas vossas mãos
Prevenir para evitar, é melhor que tratar!
Prof. Doutor José Castro Lopes
Neurologista e Presidente da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral