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Escravos e Traficantes no Império Português!

A Esfera dos Livros, acaba de publicar “Escravos e Traficantes no Império Português”, da autoria de Arlindo Manuel Caldeira, uma obra sobre um tema que tem sido, muito pouco abordado em Portugal, refere-se à escravatura durante o império português.

«Corria o ano de 1444. Uma frota algarvia de 6 caravelas chega a Lagos depois uma expedição ao golfo de Arguim (atual Mauritânia). Naquela manhã quente de princípio de Agosto, sob grande curiosidade da população local, desembarcava em Lagos um contingente de 235 escravos africanos.
A notícia correra de boca em boca. Todos queriam ver o inusitado espetáculo, até mesmo o poderoso infante D. Henrique estava presente. Não era a primeira vez que chegavam escravos negros a Lagos. Mas nunca tinham desembarcado em tão grande número.
O cronista Gomes Eanes de Zurara relata, de forma impressionante, na sua Crónica da Guiné, a partilha dos escravos: homens de caras tristes, gemendo, rostos lavados em lágrimas, homens que se atiravam para o chão, outros que se lamentavam e gritavam olhando para o céu.
O próprio infante D. Henrique ficou com 46 escravos desta leva. De uma forma simbólica, este episódio marca o início do tráfico luso-africano de escravos, consolidado quatro anos mais tarde com a criação da feitoria de Arguim.
A partir de 1444 e durante cerca de 180 anos, os portugueses detiveram, quase em exclusivo, o comércio de escravos no Atlântico. Só a partir de 1621, com a criação da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, a situação se iria alterar.
O historiador Arlindo Manuel Caldeira mergulhou numa exaustiva pesquisa, para traçar neste livro um retrato abrangente da escravatura durante o império português, da sua origem até à sua abolição.
Um processo complexo que evoluiu ao longo dos séculos, mas que aqui é analisado desde a captura em diferentes locais da costa ocidental africana, à difícil travessia do Atlântico em navios de tráfico em condições deploráveis, à chegada a Lagos e mais tarde a Lisboa, onde grande número desses escravos eram comprados para serem utilizados em tarefas domésticas, artesanais, na agricultura ou reexportados para Espanha e para a Europa do Norte, desempenhando um papel fundamental no arranque económico do velho continente.
O historiador analisa ainda com minúcia, os fabulosos lucros deste comércio e algumas das principais famílias envolvidas neste rentável negócio.
Apesar do primeiro decreto de abolição da escravatura ter a data de 1761, só em 1896 é que, de forma efetiva, a Coroa portuguesa proclamou a abolição da escravatura em todo o império português.
Para a História fica o poder dos números: entre 1450 e 1900 cerca de 11 300 000 indivíduos foram traficados no lucrativo comércio de escravos do Atlântico».




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